domingo, 17 de junho de 2018

A Festa da Santa Cruz nas Aldeias de Ferreira e de Montejuntos

A Festa da Santa Cruz nas Aldeias de Ferreira e de Montejuntos

A Festa da Santa Cruz nas Aldeias de Ferreira e de Montejuntos incluíam-se no ciclo de Festas do mês de Maio, que em todo o país deram ocasião a manifestações diversas, conhecidas por Festas de Maio ou das Maias.
Esta Festa, realizava-se no dia 3 de Maio, estando a sua organização a cargo de uma comissão, era um rito pagão sem participação, mas tolerado pela Igreja Católica.
A Festa consistia, resumidamente, no encontro de dois grupos de pessoas, o grupo da Madalena, a pecadora, e o grupo da Mordoma que tinha por finalidade absolver a Madalena, dos seus pecados. 
O primeiro grupo era composto pela Madalena ou Madanela, que representava Maria Madalena, ia vestida de negro e, levava os cabelos soltos, mostrando-se triste e pecadora, (é descrita no Novo Testamento como uma das discípulas mais dedicadas de Jesus Cristo), e levava nas mãos um pano ou toalha com o rosto de Cristo, chamado o Santo Sudário, as suas duas Madrinhas, ou Maias, quatro cantadeiras, e quatro atiradores, saía de uma  casa enfeitada, simplesmente com duas palmas em arco, a que chamavam Casa da Madalena, e iam entoando cânticos até ao lugar do encontro dos dois grupos. 
Ao grupo da Madalena juntavam-se os moradores próximos dessa casa. A Madalena ía à frente do cortejo, levando nas mãos o Santo Sudário, rodeada pelas suas madrinhas, que eram duas crianças. 
O outro grupo era liderado pela Mordoma, que ia vestida de branco, e levava a Santa Cruz, era acompanhada das mesmas figuras que integravam o grupo oposto, seguida pelos moradores do sítio onde ficava a casa da Santa Cruz, que era ricamente enfeitada com flores e imagens piedosas, sendo visitada e comentada por toda a gente. 
As cantadeiras dos dois grupos eram (8) e as madrinhas (4) representavam os doze apóstolos de Jesus Cristo. 
Os rapazes apresentavam as espingardas numa posição de defesa da Cruz e das raparigas que, iam ricamente vestidas de branco, porque esta cor representava a pureza, e cobertas de algum ouro e prata. 
As crianças participavam na Festa com bandeiras e vestidas de anjos (os anjinhos). 
Os dois grupos saíam ao mesmo tempo das respectivas casas, ao sinal de um tiro de espingarda. As cantadeiras de cada grupo iniciavam o canto cerimonial, acompanhadas pelas suas pandeiretas. 
Depois, no lugar do encontro dos dois grupos, um sítio ornamentado com folhas de palmeiras afixadas a postes de madeira, com muito rosmaninho espalhado pelo chão que ao ser pisado emanava um perfume natural e agradável, tornando o espaço aprazível, estando aí uma mesa para apoio da Cruz e seguia-se o tradicional ritual, composto pelos cânticos ao Horto das Oliveiras, semelhantes a ladaínhas, cantadas com voz muito fina, pareciam prantos, talvez, representando a agonia de Cristo no Horto das Oliveiras, esses cânticos eram antes ensinados e ensaiados durante algum tempo pela mestra da organização. 
Durante a cerimónia, os atiradores, também ensaiados, já sabiam o momento certo, no final de determinados versos, disparavam as espingardas em simultâneo, chamavam-lhe descargas, mas os cartuchos tinham apenas pólvora e expeliam papelinhos coloridos, esses momentos eram muito apreciados pela assistência, existindo uma disputa entre os grupo dos ditos atiradores, em conseguir disparar as quatro espingardas como se fosse só uma, e esses disparos davam sempre origem a muitos comentários, favoráveis ou desfavoráveis aos respetivos atiradores, fazia parte da Festa.
 Por fim, as respetivas madrinhas procediam à cerimónia da troca do Santo Sudário e da Santa Cruz, e a Madalena estava perdoada dos seus pecados.
Na Aldeia de Ferreira, geralmente, o encontro entre os grupos da Madalena e da Mordoma, era junto ao poço do chorão, acima da estrada, à direita, os grupos  vinham em sentidos opostos. 
Depois da dita cerimónia, o cortejo formado pelos dois grupos, já juntos, e com a população a acompanhar, seguiam para Capelins de Cima, para a Casa da Santa Cruz, onde acabava a cerimónia.
Pouco depois, começava a música da Banda contratada que dava início a um grande baile, no Largo de Capelins de Cima que se alongava pela noite fora.
Na Aldeia de Montejuntos, o encontro dos dois grupos, da Madalena e da Mordoma, era no centro da Aldeia, junto à Casa do Povo, o grupo da Mordoma percorria a Rua da Faceira que estava toda ornamentada com folhas de palmeiras afixadas a postes de madeira e o chão coberto de rosmaninho, e o grupo da Madalena vinha em sentido contrário, mas depois da respetiva cerimónia o cortejo, seguia em conjunto para a Casa da Santa Cruz, junto ao Monte dos Calvários, onde  terminava a cerimónia e, logo a seguir começava um grande baile até de madrugada.
Este ritual, no seu todo, durava cerca de três horas, envolvendo, diretamente cerca de vinte participantes e, mais alguns colaboradores/as ou ajudantes.
Pensamos que, o final destas Festas da Santa Cruz terminaram, na Aldeia de Ferreira cerca do ano de 1959 e, na Aldeia de Montejuntos um pouco mais tarde, cerca do ano de 1962/3. 

Escrito com a colaboração de capelineses que ainda assistiram as estas saudosas, tradicionais e gloriosas Festas, causa de grande orgulho dos capelinenses desses tempos. 

Fim 


Festa da Santa Cruz em Ferreira de Capelins, talvez ano de 1957, neste caso, o grupo da Madalena ou Madanela, representada pela amiga Jacinta Russo. 
Da esquerda para direita atrás: Manuel Russo e tio António Paulino Santos
raparigas: última à direita: Mariana Marque.
à frente: Último à direita: António Ramalho
Meninas: segunda à direita: Tia Maria Violante do Monte Ferreira.





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