A lenda da donzela moura, encantada no castelo da Vila de Ferreira
Entre 1262 e 1836, quase todo o espaço geográfico da atual Freguesia de Capelins, denominava-se Vila de Ferreira.
Na Vila de Ferreira existia um castelo, situado no outeiro do Pombo, na herdade da Defesa de Bobadela, na margem direita do rio Guadiana.
Este castelo, foi construído pelos mouros cerca do ano 1000, na linha do rio Guadiana, tal como os castelos de, Elvas, Juromenha, Mocissos, Monsaraz e outros.
No castelo da Vila de Ferreira, atual Capelins, residia o governador desta região, chamado Almurat, dono destas terras de pão e de gado, com a sua família, sendo um homem muito rico.
O castelo não tinha grandes dimensões exteriores, mas era diferente de todos os outros, visto ter sido construído sobre uma gruta natural, ainda existente, a qual, foi dividida em vários compartimentos com andares, descendo até ao fundo do rio Guadiana e, esses compartimentos serviam para vários fins, desde a prisão, a habitações do governador e dos seus criados.
Quando em 1230 os cavaleiros vilãos da cidade de Évora, reconquistaram estas terras, o governador, foi informado pelos seus guardas que tinha de fugir com a família para o Califado de Córdoba, porque, não havia sinais da vinda do auxílio pedido ao dito califado e a guarnição do castelo era muito pequena para enfrentar um exército disciplinado e bem armado.
O governador Almurat negou-se a partir, na esperança de a qualquer momento chegarem de reforços pedidos ao Al Andaluz, mas mandou a família com os criados e criadas que quiseram partir, no entanto, a sua filha mais velha, chamada Almirita, uma donzela muito linda, com grande afeição a seu pai, negou-se a partir e ficou na sua companhia.
Os cavaleiros cristãos já tinham conquistado a Vila de Terena (chamada Odialuiciuez) e, preparavam-se para o assalto ao castelo do governador Almurat, mas ele continuava a resistir em abandonar o seu castelo e, só quando os cavaleiros cristãos chegaram ao Ribeiro do Carrão, o qual, devido às chuvas dos últimos dias levava grande cheia, atrasou-lhe a marcha, obrigando-os a subir até às imediações da Zorra, onde conseguiram passá-lo, mas demoraram mais algumas horas, foi quando o governador se decidiu a partir, mas o rio Guadiana ia de mar a mar, tornando-se muito perigosa a sua travessia, quando ele se apercebeu voltou atrás com a filha e disse-lhe que ela não podia entrar na barca, seria encantada ali no seu castelo e, logo que as tropas do Al Andaluz libertassem a região, a familia voltava, ela seria desencantada e ficariam todos juntos e felizes como antes e, apressadamente tratou do tesouro, disse umas palavras mágicas e a linda donzela Almirita ficou transformada numa rocha.
O governador Almurat correu para a barca que o esperava já superlotada e, meteram-se à água, mas a corrente era tão forte que, nem chegaram ao meio do rio Guadiana, a barca ficou desgovernada, foi arrastada pela corrente e na direção da Cinza, já estava virada e ali mesmo se afundou, não havendo sobreviventes.
Os mouros nunca mais voltaram a estas terras e, a donzela Almirita ficou encantada no seu castelo, porque, o seu desencantamento é muito difícil, conforme contavam algumas criadas do castelo que ficaram, porque esta erq a sua terra, e de escravas não passavam, tinham ouvido ao governador Almurat que a donzela Almirita só podia ser desencantada na primeira noite da Hijra, com nevoeiro, que corresponde a 16 de Julho, eram uma exigência muito difícil de cumprir, nunva há nevoeiro neste lugar em pleno verão, mas havia a alternativa de darem doze pancadas na rocha certa, a que corresponde à donzela encantada e dizer as palavras chave que ninguém sabe, mesmo assim, houve muitas tentativas, quando os rapazes que por ali andavam ou passavam, ouviam a Almirita a cantar lindas melodias, eles corriam ao castelo e tentavam tudo o que se possa imaginar, mas sem êxito e, assim a linda donzela Almirita, continua cativa, encantada numa rocha no castelo da antiga Vila de Ferreira, com o tesouro associado ao seu desencantamento e, quem bem escutar, ainda hoje consegue ouvir as suas lindas cantigas na primeira noite da Hijra.
Texto: Correia Manuel